A noite do domingo 14 de julho foi muito especial para quem teve o privilégio de estar na Roda de Samba prás Tias, no salão do União Fraterna, na Lapa paulistana. O que aparentemente parecia o esforço de duas famílias unidas, para saudar, numa única festa, suas matriarcas, foi, na verdade, um encontro de várias histórias e muita alegria.
Dona Cida, da Velha Guarda da Gaviões da Fiel, completou 95 anos em 4 de junho. Tia Neide, da Camisa Verde e Branco, cravou seus 85 anos no dia 8 de julho. Claro, que essa não foi a primeira comemoração delas!
Como foi postado no grupo de WhatsApp que as filhas de ambas criaram para organizar os convidados; o presente solidário de um pacote de fraldas infantis para serem doadas; e tudo que saiu impecável no final, a diferença das Escolas, nunca foi motivo de rixa, pelo contrário.
Algumas pessoas, ainda leigas sobre o Carnaval Paulistano, chegam a pensar que o Camisa Verde seja uma escola de samba ligada a alguma torcida organizada do Palmeiras. Isso devido ao seu nome e suas cores (verde e branco, as cores do Palmeiras). No entanto, o Camisa Verde não tem nenhuma ligação real com este clube de futebol, sendo tudo isso apenas grandes coincidências. A história da escola é tão antiga quanto a história palmeirense, já que o clube foi fundado em 1914, mesmo ano de fundação do Grupo Carnavalesco da Barra Funda. Além disso, a Escola Camisa Verde e Branco é madrinha da Gaviões da Fiel, escola-torcedora do Corinthians, postaram elas.
Nem todo mundo que estava lá era bamba (quem me viu sabe), mas todos sambaram, na puxada do mestre de cerimônia T-Kaçula, que só perdeu nos pedidos de fotos para as aniversariantes. Anderson Tobias comandou a roda sentada, com uma constelação do samba de raiz de São Paulo, que nem ouso nomear.
Só quem não conhece de perto as aniversariantes poderiam supor que elas iam ficar sentadas. Sambaram até, de quase tudo que foi cantado: alguns dos melhores samba-enredo; velhos samba de morro; pérolas do partido alto. Não as vi dançando gafieira, mas alguns casais honram a fama do salão e deslizaram pelos tacos famosos do lugar.
O prédio da União Fraterna, que está completando 90 anos em 2024, como tantos outros patrimônios históricos de São Paulo, deveria ser rigorosamente acompanhado pelo governo municipal. Se dentro continua bonito, do lado de fora sofre com ação de vândalos, mas essa é conversa para outra roda.
Entre as tantas coisas boas dessa festa destaca-se o fato impar, nesse momento, de ninguém ter lembrado de campanha, de políticos, de atentados organizados ou não. Nas mesas só as pequenas fofoquinhas de sempre (festa de família não tem como não ter). Tudo regado a muita cerveja, sanduichinho de carne louca e caldinho de feijão, tudo oferecido aos convidados. Poucos na cidade tiveram um final de domingo melhor.