Jornalismo profissional pioneiro nas reportagens e publicações sobre os grupos de terceira idade no Brasil
Por Hermínia Brandão, editora Jornal da 3ª Idade
herminia@jornal3idade.com.br
” No começo dos anos 90, um jornalista querido, o saudoso José Roberto Alencar, com quem trabalhei na Folha de S. Paulo me apresentou um grupo de psicólogas. Elas tinham acabado de abrir uma empresa para acompanhar idosos em teatro e passeios.
Por vários motivos, estavam tendo problemas para divulgar, pois, sempre que contavam da natureza do trabalho escutavam que o negócio dificilmente vingaria, já que no Brasil não existia mercado para produtos e serviços para idosos.
Eu mesma titubeei diante dos projetos delas. Foi quando uma começou a contar de tudo que já existia naquele período na Europa para os mais velhos. Elas também falaram muito sobre os trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos no Brasil.
Pensei então: se me julgo bem informada e não conheço nada disso, logo muitos também não devem conhecer.
Fiz uma reportagem a respeito, como “freelancer” para uma publicação e a repercussão foi nacional e enorme, principalmente se considerarmos que não tínhamos, então, redes sociais e nem ferramentas “online”.
Fiquei encantada com os contatos que descobri, com as novas fontes que criei e com o caminho de pautas inovadoras, praticamente inexploradas para os padrões da época. Como se dizia nos bastidores da imprensa “fui mordida pela mosca azul”.
Comecei a pesquisar a respeito e quando me dei conta tinha um cadastro de 96 páginas nas mãos. Ofereci para as psicólogas, fontes da minha inspiração a parceria no lançamento de um livro que servisse de roteiro no seguimento. Elas, que já tinham desfeito o grupo, não se interessaram.
Fui em frente e no início de 1996 já tinha na gráfica a primeira versão do Guia Brasileiro da 3ª Idade. Nunca mais sai da área.
Por mais um acaso da vida, em maio e junho de 1996 reportagens do jornal O Globo, denunciaram centenas de mortes de idosos, por maus tratos, em duas casas de repouso no Rio de Janeiro: na Clínica Santa Genoveva e na Clínica Campo Belo.
A repercussão foi internacional e o governo brasileiro chefiado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, para “limpar a barra” organizou um evento com mais de 100 países participantes, em Brasília, na sede do Itamaraty. Nele foi finalmente oficializado a regulamentação da Política Nacional do Idoso, que já estava aprovada desde 1994, no Governo Itamar Franco.
Como a única publicação que existia no Brasil, listando todos os serviços e produtos voltados para idosos, era o Guia Brasileiro da 3ª Idade, fui convidada pelo Dr. Alexandre Kalache, coordenador desse evento e na época chefe do Programa Mundial de Envelhecimento da ONU, para distribuir exemplares naquele encontro.
Assim meu trabalho, até então restrito aos grupos de terceira idade e movimento de aposentados de São Paulo, ganhou repercussão nacional e começou a entrar na história dos trabalhos com o envelhecimento no Brasil.
Em 2024 comemoro 30 anos de jornalismo voltado para a pesquisa e estudo sobre o envelhecimento, dentro dos 49 de exercício profissional. Também 29 anos da primeira edição do Guia Brasileiro da 3ª Idade e 21 anos do Jornal da 3ª Idade.
Os dois anos de pandemia – 2020 e 2021 – foram ainda mais desafiadores. Além de todas as angústias e expectativas vividas, como todas as pessoas, o desafio de manter o contato com os grupos somente de forma virtual foi uma prova de fogo.
Muito trabalho e novos projetos, como sempre. Em julho de 2024 vou postar a primeira parte do Guia do Envelhecimento de São Paulo que vai fazer um diagnóstico do que existe para as pessoas idosas nos 96 distritos da cidade. É a volta do Guia, agora no formato digital.
Sonhos não envelhecem!