Na literatura brasileira existem vários exemplos de mulheres que começaram a escrever quando já estavam vivendo a sua maturidade. Cora Coralina só começou a publicar quase aos 76 anos de idade e Conceição Evaristo só fez sucesso depois dos 55 anos.
Elas são exemplos de inspiração para várias idosas que participam de projetos culturais da periferia de São Paulo e que também estão se dispondo a publicar suas produções até então nas gavetas.
Moradora do Jardim Pantanal há décadas, Conceição Costa, é uma guerreira, com uma história até certo ponto parecida com tantas mulheres que migraram para a cidade de São Paulo, para buscar uma melhor qualidade de vida para seus filhos.
Abandonada pelo marido, com quatro filhos pequenos para criar, ela se estabeleceu na área que segundo ela os paulistanos só lembram na época das enchentes.
Com os filhos criados e formados, como ela se orgulha de falar, passou a frequentar os grupos de Cultura da Zona Leste. Conheceu o Projeto Continuar, coordenado pela psicóloga e produtora cultural Jeane Silva, que faz Saraus de Poesia com a Terceira Idade. Segundo ela foi na declamação das poesias que descobriu a vontade de fazer as suas e não mais parou e agora lançou o segundo livro.
Mesmo querendo se dedicar cada vez mais a literatura, ela não abandona a militância no Colegiado Leste e na defesa do Jardim Pantanal, que ela afirma ser um lugar onde a população precisa de quase tudo.
O Jardim Pantanal continua quase o mesmo de quando cheguei aqui, vinda da Vila Ré, depois de comprar um terreninho por 22 mil cruzeiros, que era tudo que eu tinha na época. As pessoas só aparecem na época das enchentes. vem aqui um bocado de gente, olha tudo, passa na televisão, depois que para a chuva esquecem o Pantanal. Aqui precisamos de muita coisa: de hospital, de correio, de UPA, UBS, de linha de ônibus. As promessas vão embora com as águas até a próxima enchente, lamentou Conceição Costa.