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Fotógrafa Claudia Andujar, defensora dos Yanomami, 88, ganha retrospectiva em Paris

Meninas se banham em igapó. foto: Claudia Andujar

Claudia Andujar, a fotógrafa suíça, naturalizada brasileira, que desde a década de 1970 se dedica à defesa dos índios Yanomami, hoje com 88 anos, ganha a partir de amanhã, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea, em Paris, a maior retrospetiva do seu trabalho no exterior.

Os parisienses poderão ver a exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami, que esteve no ano passado em São Paulo e no Rio de Janeiro, uma seleção  montada a partir de uma detalhada pesquisa no arquivo de mais de 40 mil negativos da fotógrafa.

a exposição

Nos dois andares reservados pela Fundação, a exposição reúne as imagens realizadas a partir dos anos 1970, quando Claudia Andujar iniciou seu contato com os Yanomami e que vai evoluir para um engajamento militante.

A primeira parte que ocupa um andar inteiro do prédio mostra o caráter mais artístico de suas imagens; sua percepção com o estilo de vida, a relação com o território, os costumes e rituais como o xamanismo. A segunda parte revela a dimensão política e ativista, quando a fotografia é usada como vetor para ações em defesa dos direitos do povo Yanomami.

“São dois núcleos. O primeiro, em que ela chega no território Yanomami e começa a desenvolver um projeto artístico original e criativo, e representa fotograficamente sensações. A visão de mundo dos Yanomamis. É um grande idílio, ela aprende e experimenta. No meio desse caminho, ela é expulsa do território por denunciar a violência da invasão do território amazônico e muda de atuação”, explica o curador da exposição Thyago Nogueira.

Claudia Andujar

Claudia Andujar nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1931 e atualmente vive e trabalha em São Paulo. Ela cresceu na Transilvânia, que na época havia sido incorporada recentemente à Romênia após anos de domínio húngaro. Durante a Segunda Guerra Mundial, o pai de Claudia, um judeu húngaro, foi deportado para Dachau, onde ele foi morto junto com a maioria de seus parentes paternos. Claudia Andujar fugiu com a mãe para Switzlerand, imigrou primeiro para os Estados Unidos em 1946, depois para o Brasil em 1955, onde iniciou uma carreira como fotojornalista.

Claudia Andujar conheceu os Yanomami em 1971, enquanto trabalhava em um artigo sobre a revista Amazon for Realidade. Fascinado com a cultura dessa comunidade isolada, ela decidiu embarcar em um ensaio fotográfico aprofundado em sua vida cotidiana após receber uma bolsa de estudos em Guggenheim para apoiar o projeto. Desde o início, sua abordagem diferia muito do estilo documentário direto de seus contemporâneos. As fotografias que ela fez durante esse período mostram como ela experimentou uma variedade de técnicas fotográficas na tentativa de traduzir visualmente a cultura xamânica dos Yanomami. Aplicando vaselina na lente de sua câmera, usando dispositivos de flash, lâmpadas a óleo e filmes infravermelhos, ela criou distorções visuais, faixas de luz e cores saturadas, imbuindo assim suas imagens com uma sensação de outro mundo.

Claudia Andujar também desenvolveu uma série de retratos sóbrios em preto e branco que capturam a graça, dignidade e humanidade dos Yanomami. Focalizando de perto os rostos e os fragmentos do corpo, ela enquadra firmemente suas imagens, usando um dramático claro-escuro para criar um sentimento de intimidade e chamar a atenção para estados psicológicos individuais.

Juntamente com as muitas fotografias tiradas durante esse período, a exposição também apresentará uma seleção de desenhos Yanomami. Depois de anos fotografando os Yanomami, Claudia Andujar sentiu que era importante proporcionar-lhes a oportunidade de representar suas próprias concepções da natureza e do universo. Assim, ela iniciou um projeto de desenho, equipando os membros da comunidade com marcadores e papel. Uma seleção desses desenhos representando mitos, rituais e visões xamânicas dos Yanomami será apresentada na exposição.

Entrevista que ela concedeu para Antonio Abujamra, no Programa Provocações da TV Cultura.