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Lula promete recriar a Previdência e ampliar o SUS para a terceira idade

O ex-presidente Lula se reuniu com representantes de associações de idosos e aposentados para receber reivindicações. Foto: jornal3idade.com.br

O que deixa a gente desmotivado é não ter uma razão para viver. Temos que construir essa razão para viver. Tem que ter alguma coisa para fazer todo dia. Não pode ficar num bar sentado, jogando dominó ou tomando uma cachacinha para voltar pra casa e encher o saco da companheira. Quando a gente começa a se comportar assim, realmente a vida perde o sentido, mas se você tem uma causa, não tem idade, disse o  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de opinião, como candidato a retornar ao Palácio do Planalto, nas eleições do próximo domingo.

Na sua fala, certamente para boa parte dos aposentados dos sindicatos, ainda distantes da realidade dos mais de 50 mil grupos de terceira idade do país, onde as mulheres predominam, Lula, que completará 77 anos, no dia 27 de outubro, mandou um recado para os eleitores idosos mais conservadores. Em vários momentos, ele falou das suas experiências recentes, do novo casamento realizado em maio, das horas que tem gasto com o cuidado com o corpo.

Quando vocês estiverem se sentindo cansados, pensem: se o Lula, com 77 anos, casou outra vez e está animado, porque vou desanimar? Vou pedir uma coisa para vocês que é uma missão: Não fiquem parados. Nós temos que praticar exercícios, se puder andar cinco minutos, ande. O corpo não foi feito para ficar parado. Se vai na padaria ou no mercado, vá a pé. Não deixe que a ociosidade seja o que vai matar a gente. Se puder namorar muito também, namore!. Ele falou olhando para Janja, sua nova esposa, que está sempre presente nos eventos.

O ex-presidente repetiu várias vezes seu bordão na atual campanha, de que se for eleito fará muito mais e melhor do que fez nas suas gestões passadas, por tudo que aprendeu. Isso veste perfeito no discurso das pessoas mais velhas, que buscam mostrar para toda a sociedade que é exatamente a experiência que faz a diferença.

Todas as declarações aconteceram na frente de um pequeno grupo, com representantes de pesquisadores da área do envelhecimento, associações de aposentados e de idosos, na manhã da última quinta-feira, 22/9, na Vila Madalena, na Zona Oeste da capital, em São Paulo.

Não foi um debate, mas uma apresentação para um grupo de apoiadores que além de reafirmar a disposição de votar na chapa Lula-Alckmin, se mostraram dispostos a trabalhar até o próximo domingo para puxar os votos dos idosos e buscar garantir a eleição no primeiro turno.

O evento foi proposto pelo Deputado Federal Rui Falcão e organizado pelas sociólogas, Eleonora Menecucci (ex-ministra) e Maria do Carmo Guido, coordenadora do Setorial da Pessoa Idosa do PT de SP e também conselheira do Conselho Municipal da Pessoa Idosa de São Paulo.

Lula foi o último a falar, antes escutou de alguns representantes escolhidos, reivindicações e recebeu documentos com propostas para políticas públicas para as pessoas idosas, para serem implantadas pelo governo federal, caso ele venha a ser eleito.

Na sua fala assumiu a necessidade de humanizar a relação do Estado com a terceira Idade. Lula destacou que existem serviços que precisam ser oferecidos gratuitamente pelo SUS, como fisioterapia, nos mesmos moldes do médico da família que vai ao domicílio, como também o atendimento de cuidadores. Ele prometeu ampliar a alfabetização para os idosos, disse que vai recriar o Ministério da Previdência Social e defendeu a criação de um sistema de cotas para idosos.

Esta última promessa foi a única que causou um “muxoxo” em alguns dos presentes. Só para lembrar, a criação das cotas para idosos foi defendida pela primeira vez na 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, em abril de 2016 e foi um dos temas mais problemáticos nas discussões. A falta de consenso, entre os 755 idosos de todos os Estados, impediu que fosse levada para a plenária da XII Conferência Nacional de Direitos Humanos, que se seguiu reunindo delegados de vários segmentos.

Mesmo os que “sem querer” demonstraram a discordância, fizeram questão de dizer que não era a hora para isso:

Foi um lapso, não é hora para discordâncias. Acho que você nem devia registrar e dar nomes. Certamente teremos muitas polêmicas depois. O mais importante que viemos fazer aqui é dizer que vamos nos esforçar para colocar Lula na presidência, mesmo sem ser petistas. Os idosos são os que mais irão perder se ele não for eleito, disse o professor apoiador, que pediu para se manter anônimo. 

O médico e gerontólogo, Alexandre Kalache entregou ao candidato Lula um documento, assinado por estudiosos, baseado na “Década do Envelhecimento Ativo e Saudável da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foto: jornal3idade.com.br

Fala dos representantes 

Maria do Carmo Guido, chamada por todos por Cacá: Lula, falo aqui também em nome do Prof.º Vicente Faleiros, coordenador nacional do Setorial da Pessoa Idosa do PT. Queremos aqui mostrar para você Lula, que o PT encara a transição demográfica, os 33 milhões de idosos que existem no Brasil, que são 17% da população, como uma questão de Estado. Temos gente estudando isso e podemos contribuir muito.

Mauro Motoryn, criador da primeira plataforma digital premiada pela ONU em Cidadania: No Brasil temos 55 milhões de pessoas 50+, um total maior que toda a população da Argentina. Precisamos de políticas públicas permanentes. Precisamos de um olhar especial para os idosos do Nordeste e para todas as franjas da sociedade.

Alexandre Kalache, médico gerontólogo, presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil, ex-diretor do Departamento do Envelhecimento e Saúde da OMS: Presidente, estamos traumatizados com tudo que aconteceu nos últimos anos, porque foram os idosos os mais prejudicados. Acabamos de ter o desprazer de ler notícias que apontam que na classificação internacional o Brasil está em 44º lugar, entre os 45 países onde pior se aposenta. Precisamos logo após a eleição nos debruçarmos para trazer o envelhecimento para o centro das políticas públicas. Ter hoje um aposentado dentro de casa é ter a garantia de renda mensal. O Brasil precisa urgentemente ratificar a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos. A eleição de Lula é a única saída para que os idosos brasileiros voltem a ter perspectiva de envelhecer com direitos e dignidade.

Maria da Guarda Rocha, conhecida como Rochinha, presidente da Associação de Aposentados e Pensionistas da Saúde e Similares (Abrapopess): O idoso precisa ter educação, saúde e segurança. Precisamos de um Conselho Nacional da Pessoa Idosa em Brasília que funcione para todos.

Warley Martins, presidente da COBAP- Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos e também da Associação de Aposentados e Pensionistas de Catanduva: O Brasil hoje tem 36 milhões de aposentados pelo regime geral da Previdência. Estamos trabalhando para que os aposentados que têm mais de 70 anos não deixem de ir votar. Precisamos ter  o Ministério da Previdência de volta, porque esse é o lugar dos aposentados fazerem suas reivindicações.

Antônio Alves, presidente da FAPESP-Federação dos Aposentados do Estado de SP: Falamos muito das riquezas do país, dos minerais, do agronegócio, mas muitas vezes esquecemos que a maior riqueza é a nossa gente. Precisamos de reajustes para os aposentados.

Luiz Antônio Adriano da Silva, chamado por todos como Luisão, presidente do SINDINAP- Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical: O Estatuto do Idoso foi aprovado na sua gestão, a possibilidade de olhar para o gerente do banco como ser ativo na economia foi no seu governo. Precisamos reerguer a Previdência Social. A dignidade que a gente tinha na vida sindical era trabalhar para quem vinha depois, para as gerações futuras. A Economia 4.0 vem aí e a chance da falência da Previdência Social acabar para as gerações futuras é muito grande. Precisamos criar um grupo de trabalho para estudar como vamos fazer isso. Os jovens não acreditam na previdência pública. Hoje 70% dos municípios do Brasil vivem em função do que o INSS paga todos os meses aos seus aposentados. A falência da previdência pública significa a falência desses municípios.