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PAI da Prefeitura de São Paulo foi apresentado em Brasília e poderá se tornar uma política nacional

Por Hermínia Brandão
herminia@jornal3idade.com.br

O Programa Acompanhante de Idosos (PAI), que é uma iniciativa pioneira da Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo, poderá em breve se tornar uma política nacional. Também existe interesse de entidades internacionais que ele venha a ser implantado em alguns países da América do Sul.

Essas expectativas partem de duas reuniões que envolveram recentemente a representação do PAI, através da coordenadora da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa, Dra. Rosa Maria Bruno Marcucci. Uma foi organizada pela Secretaria Nacional de Cuidados e Família do MDS – Ministério de Desenvolvimento Social, na última quinta-feira, 22 de junho, em Brasília. A outra foi da RedCUIDAR+, uma iniciativa do BID, que foi remota e encabeçada pela Colômbia com apresentações da Colômbia, Chile e Brasil.

O Programa teve início em 2003, chamado de “Anjos Urbanos” e foi oficializado como parte da Política Municipal de Atenção à População Idosa em 2008. Atualmente são 50 equipes em atuação e cerca de 6 mil usuários em acompanhamento pelo programa. O material apresentado nas reuniões contém relatos diversos baseado na prática de 48 das 50 equipes e está organizado regionalmente, por Coordenadoria Regional de Saúde. Segundo seus organizadores, todas as fotos de pessoas idosas incluídas estão autorizadas. 

A Dra. Rosa Maria Bruno Marcucci (a direita) que apresentou o Programa Acompanhante de Idosos (PAI), ao Ministério da Saúde. Foto: divulgação

Para saber mais sobre como aconteceu essas reuniões, o Jornal da 3ª Idade conversou com a Dra. Rosa Marcucci, que contou sobre a importância dessas iniciativas.

Jornal da 3ª Idade-Qual a importância da apresentação do PAI nessa reunião ocorrida na semana passada? Quem participou dela?

Dra. Rosa Marcucci, coordenadora da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa, da Prefeitura de São Paulo Em Brasília, na quinta-feira, aconteceu a segunda reunião do Grupo de Trabalho da Política Nacional de Cuidados. Participaram representantes de quatro Estados, com experiências diferentes, em relação aos eixos coordenadores.

Jornal da 3ª Idade-Quais são os eixos da Política Nacional de Cuidados?

Dra. Rosa Marcucci– Eles estão trabalhando com quatro eixos: os três primeiros são relacionados aos cuidados prestados aos grupos prioritários: criança , pessoa com deficiência e pessoa idosa. Um quarto grupo está direcionado às trabalhadoras e trabalhadores que prestam cuidados. Como parte da pauta do três primeiros, foi apresentada uma experiência com Saúde da Criança, do Ceará; um Centro Dia para pessoas portadoras de deficiência, de João Pessoa, na Paraíba. No seguimento das pessoas idosas o PAI de São Paulo e o programa Maior Cuidado de Belo Horizonte, que também é voltado para a população idosa. Também teve uma apresentação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Belo Horizonte, que está trabalhando uma Política Municipal de Cuidados. 

Jornal da 3ª Idade– O que o Ministério pretende com esse encontro?

Dra. Rosa Marcucci– Eles (Secretaria Nacional de Cuidados e GTI da Politica Nacional de Cuidados) estão buscando conhecer várias experiências relacionadas ao cuidado, tanto no nível nacional quanto internacional para auxiliar na composição da Política Nacional. Eles assistiram a reunião da Rede Cuidar Mais, que é um trabalho desenvolvido pelo Banco Mundial com vários países. No final de maio passado aconteceu a 7ª  reunião desta Rede. Lá foram apresentados trabalhos do Chile, da Colômbia, que estava sediando, e do Brasil. O PAI foi quem nos representou e participamos de forma remota, como convidados. Estamos apostando que o PAI realmente se torne uma política nacional.

Jornal da 3ª Idade– No documento que vocês apresentaram dois serviços do PAI não participaram. Houve algum critério para isso?

Dra. Rosa Marcucci Não apresentamos apenas um documento. Seguimos um roteiro que abordava a história do programa, seu desenvolvimento, processo de trabalho, resultados e desafios. O documento foi uma iniciativa nossa de apresentar as diversas experiências e mostrar a amplitude do cuidado. Foi feito com prazo curto, sem tempo para uma edição mais aprimorada, mas o conteúdo está riquíssimo,  mostrando o quanto o PAI respeita a integralidade do cuidado e a necessidade de cada indivíduo. Desde a festa de Natal ao mutirão de limpeza, passando por levar alguém ao culto ou tomar um chá,  todas as ações estão fundamentadas por um trabalho de excelência das nossas equipes e pelo entendimento pleno de que saúde é um equilíbrio bio-psico-sócio-espiritual.  Ainda hoje é um trabalho de vanguarda já que infelizmente a formação dos profissionais de saúde ainda se preza mais pela medicalização, pelo método invasivo como se a cura estivesse só no físico.  Também o documento norteador do programa está sendo revisado. Estamos discutindo o processo de trabalho com as equipes através do  Fórum Permanente da RASPI ( Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa).

Jornal da 3ª Idade-Atualmente existem 50 equipes em atuação no PAI. Quantas serão necessárias para contemplar toda a cidade de São Paulo, que tem mais de 2 milhões de pessoas idosas? A dificuldade é de financiamento?

Dra. Rosa Marcucci-A maior dificuldade para uma expansão mais rápida sem dúvida é a questão do financiamento, já que o Programa é custeado somente com verba municipal. Fiz um trabalho para a FioCruz que aponta que precisamos de cerca de 125 equipes para a cidade. Temos 50 e mais 15 equipes sendo preparadas para implantação. Com custeio federal seria muito mais rápido, não só para a demanda do PAI, mas para toda a linha de cuidados. Hoje o grande gargalo é a continuidade da assistência para as pessoas que mais necessitam de cuidados prolongados, como ILPI Grau 3, por exemplo, e outras demandas. Isso não é só em SP, é um problema de todo o país.

Jornal da 3ª Idade-A questão da profissionalização dos cuidadores, chegou a ser mencionada?

Dra. Rosa MarcucciFiz questão de repetir várias vezes e em quase tudo que falei destaquei a importância da regulamentação dos Cuidadores. O tema foi pautado várias vezes, inclusive pelos representantes que apresentaram as experiências dos quatro Estados.  A equipe da Secretaria Nacional de Cuidados e Família mencionou que esse já é um dos itens no radar deles. A regulamentação dos cuidadores é importante, poque esbarra na regulamentação do Programa. Como não se tem uma regulamentação que normatize a atuação do profissional e as suas competências, fica sempre um impasse. Se eu tivesse a regulamentação poderia utilizar muito mais as competências dos acompanhantes de idosos e ajudaria a SMADS junto a gestão das ILPI e dos Centros Dia. Estamos torcendo que o PAI se torne uma política nacional e que tenhamos repasse federal para as ações voltadas ao cuidado da população idosa. No Relatório final Conferência Livre “Envelhecimento e Saúde”, preparatória para a 17ª Conferência Nacional de Saúde, que começa na semana que vem em Brasília, já foi proposto o PAI como política nacional.