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Saúde do Idoso de São Paulo volta a agendar exames cancelados no início da pandemia

Com o aumento gradual das atividades na cidade de São Paulo, as maiores dúvidas, da maioria da população idosa está na retomada no atendimento dos serviços municipais de saúde, interrompidos no começo da pandemia. 

Alguns médicos já deram entrevistas preocupados com o abandono dos tratamentos e acompanhamentos de casos graves e mesmo do controle da Diabetes e Hipertensão. 

Para saber como está o atendimento da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo destinado aos idosos, nesse momento, o Jornal da 3ª Idade entrevistou a médica, Especialista em Geriatria, Assessora da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa, da Coordenação da Atenção Básica de Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, Dra. Lilian de Fátima Costa Faria.

Jornal da 3ª Idade – Na terça-feira, 28 de julho, o Prefeito Bruno Covas, declarou a sua preocupação com o crescimento nos números da contaminação dos idosos na cidade de São Paulo. Ele prometeu pedir para a Secretaria Municipal de Saúde um plano de atenção especial para essa faixa da população. O Prefeito já pediu? Quem está a frente de organizar esse plano? 

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, assessora da área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS- Secretaria Municipal da Saúde – O plano, especial para os idosos, existe desde o começo da pandemia. Na Secretaria Municipal de Saúde trabalhamos com áreas técnicas e uma delas é a Área Técnica da Saúde da Pessoa Idosa. Tudo que se faz na SMS sempre tem um plano pensando nessa fatia da população idosa. Então, o plano existe desde março e ele vai sendo colocado na medida que preciso aumentar ou diminuir estratégias. Não é um plano novo, é uma adequação do plano que já existe, que  vai caminhando conforme a pandemia se desenrola.

Jornal da 3ª Idade – O que precisou ser adequado neste período de emergência, no plano que já estava pré-estabelecido?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Podemos falar do que já foi feito e das preocupações para o pós- Covid. Como já estamos vivendo uma situação um pouco mais estabilizada, começamos a pensar no que ficou para a pós-pandemia, porque as coisas não param. Nós já vínhamos trabalhando as salas dos idosos nas UBS. 

Jornal da 3ª Idade – Essa já era uma pergunta desta entrevista, até porque foi bastante debatida na última reunião virtual da Comissão das Pessoas Idosas, do Conselho Municipal de Saúde, há alguns dias.Independente do êxito na implantação dessas salas, a impressão é o projeto delas significa o abandono do projeto de implantação de URSI- Unidade de Referência da  Saúde do Idoso, que vem sendo muito discutida e trabalhada, nos últimos anos.  A população idosa organizada correu para ajudar a apontar possíveis terrenos e correr atrás de documentação necessária. Na última reunião de 2019 do Grande Conselho Municipal do Idoso foi dito que uma avaliação interna da SMS apontava não existir tanta necessidade de se colocar novas URSI e sim intensificar o trabalho das salas nas UBS.

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Trabalhos dentro da Atenção Primária, pensando em promoção de saúde e prevenção de agravos, pensando como um todo na população da cidade. Hoje temos um aumento considerável da população idosa na cidade. Temos que pensar nessa população que está dentro das UBS. Por isso a intenção de investir em quem está dentro das UBS. Hoje a gente não fala mais da equipe especializada do idoso, que é a URSI. Ela existe e precisa ser gradativamente aumentada, mas a nossa maior preocupação é o que fazer com esse idoso que hoje está na UBS e que vai perdendo a sua capacidade funcional. É nesse sentido que a gente aumentou a nossa visão para saúde geral, com as salas das UBS, com o Programa Nossos Idosos. A ideia é que toda a rede tenha essa visão da saúde do idoso.

Jornal da 3ª Idade – Essas salas estão implantadas em todas as UBS de São Paulo?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Todas tem esse atendimento específico para a população idosa. Nenhum idoso vai chegar no balcão e ficar parado esperando o clínico, quando ele chega é prontamente atendimento e encaminhado para um profissional da rede que está disponível. O idoso é atendido num primeiro momento para saber a demanda inicial e vai depois para o acompanhamento individual ou em grupo.

Jornal da 3ª Idade – Quando chega no momento desse encaminhamento específico volta a ideia da URSI ou esse programa está congelado por hora?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – A URSI não está congelada, mas ela é para atender o idoso que é frágil, que representa 12% da nossa população. Não precisamos de uma URSI em cada UBS.

Jornal da 3ª Idade – O plano que existia da criação das URSI está ou não congelado?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Não, ele não está congelado. A visão hoje do trabalho com idosos é que é diferente. A gente calcula a necessidade de implantação de URSI em cima do atendimento que temos nas URSI existentes. Elas estão dando conta do que está sendo encaminhado. Não temos filas de espera para marcar nas URSI.

Jornal da 3ª Idade – A Avaliação Multidimensional está ligada ao trabalho dessas salas?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – A Avaliação Multidimensional  é que precisará se o idoso vai continuar na UBS, se vai precisar de novas consultas, se o atendimento será individualizado, se irá para a URSI ou será encaminhado para o PAI.

Jornal da 3ª Idade – Para entender, porque essa Avaliação Multidimensional entra e sai do Plano de Metas da Prefeitura ano a ano. Ela estava em 2018, foi colocada no fechamento de 2019 e voltou agora para 2021?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Essa avaliação é constante, ela é feita dentro das UBS. É essa avaliação que caracteriza se o idoso está frágil, pré-frágil ou saudável. A partir daí é que ele é encaminhado para a URSI ou não. Essa Avaliação existe desde 2015, eu inclusive ajudei a fazer os primeiros testes. Foi implantada e continuará sendo usada, porque consegue facilitar toda a nossa rede de trabalho.

Jornal da 3ª Idade – Nessa fase de transição, acreditando na estabilização da pandemia, como ficará o chamamento para os idosos que tinham consultas agendadas, exames marcados, tudo que foi desmarcado devido ao isolamento?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS –  Foram suspensas as agendas eletivas (procedimentos médicos que são programados, ou seja, não são considerados de urgência e emergência). Pacientes com doenças crônicas, Diabetes, Hipertensão, que tem uma necessidade imediata, elas continuaram a ser atendidas. Em nenhum momento esses atendimentos foram suspensos. Iniciou-se um monitoramento telefônico de todas as equipes, tanto de UBS, como através do Programa Saúde da Família que tem os agentes comunitários. Dependendo da urgência do paciente ele era agendado na unidade e atendido num fluxo separado, dos atendimentos que estavam sendo feito para a Covid. Os doentes graves não deixaram de ser atendidos. O PAI (Programa de Acompanhamento do Idoso), que é para a população frágil e vulnerável não parou em nenhum momento os seus atendimentos. A equipe do PAI não trabalha na UBS, ela trabalha na rua. Eles têm a equipe de médicos, auxiliar de enfermagem que fazem atendimento domiciliar. Inclusive monitorando pacientes com Covid19, caso necessitasse de internação.

Jornal da 3ª Idade – O que volta agora com a Portaria 260 que foi publicada?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS –  O que volta agora são as consultas eletivas com agendamento também por prioridade. Elas precisam ser agendadas num horário diferente. Aquelas consultas que eram marcadas a cada 20 minutos terão que entrar numa fila de espera dentro da UBS, porque temos que fazer tudo para não aglomerar. 

Jornal da 3ª Idade – Para pegar os remédios. Como fica agora?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – A entrega dos remédios em nenhum momento deixou de ser feito nas farmácias. Existe, inclusive, notas técnicas, liberando as receitas, para os pacientes que estavam estáveis, valessem por 90 dias, para que houvesse a necessidade de voltar a UBS só para uma consulta eletiva para refazer a receita.

Jornal da 3ª Idade – Qual é a maior preocupação da Secretaria hoje, quando se refere a saúde do idoso?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – A maior preocupação é com a volta das pessoas aos seus trabalhos. Tem muito idoso que mora com os netos e com os filhos. A maior preocupação é a contaminação desse idoso pelos demais membros da família que estão retomando as suas atividades. O que a gente pede é cuidado redobrado com as questões de higiene, o uso da máscara dentro de casa, para esses familiares. As UBS monitoram esses idosos pelos programas.

Jornal da 3ª Idade –  Existe alguma previsão de testagem para os idosos?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Testagem não vale só para o idoso, como falei ele está sempre junto do familiar. Se o idoso está dentro de casa se guardando, na quarentena, a chance dele se contaminar é quase nula. Se o idoso mora com um familiar que vai e volta, eu tenho que testar esse familiar e se ele der positivo aí sim vou testar a família.

Jornal da 3ª Idade –  A Secretaria Municipal de Saúde fez algum plano específico para as ILPI?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Fizemos um plano específico para as ILPI. Monitoramos o que já tinha acontecido na Itália e na Espanha. Tivemos essa experiência para ajudar a monitorar por aqui.

Jornal da 3ª Idade – Quantas ILPI existem na cidade de São Paulo?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Para entender, as ILPI não estão na Secretaria da Saúde. Elas estão na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Hoje elas são um serviço híbrido. A SMS está trabalhando em conjunto com SMADS em 21 equipamentos, que são os sócio-sanitários. Em todos existem uma equipe de saúde e em todas as ILPI ou Centro de Acolhida Especial são referenciados para uma UBS.

Jornal da 3ª Idade – E nas demais ILPI da cidade, existe algum trabalho?

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria, Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da SMS – Existem cadastradas na COVISA (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) 716 ILPI filantrópicas e particulares. Elas também estão sendo trabalhadas com a SMS, através do fornecimento de normas técnicas, com visitas técnicas que são feitas junto com as UBS e com as supervisões de saúde. Caso exista indício de contaminação é indicada a testagem. Em várias já foram feitas. Caso de positivo esse paciente é levado para um hospital de campanha se tiver sintomas leves. Caso seja um paciente que já tenho problemas cognitivos ele é encaminhado para leitos de retaguarda que temos no Hospital Geriátrico Convalescentes D. Pedro, onde existe uma equipe mais especializada em saúde do idoso.Também temos idosos que são assintomáticos. Eles também, depois de testados, são isolados e encaminhados para um centro.

 

Dra. Lilian de Fátima Costa Faria Título de especialista em geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatra e Gerontologia Título de especialista em geriatria pela Associação Médica Brasileira Assessora da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa / Coordenação da Atenção Básica de Saúde da Secretaria Municipal da Saúde