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Capital e cidades da 1ª Região Esportiva podem ficar sem participar do JOMI 2024 por problemas na atual gestão da Secretaria Estadual de Esportes de SP que não tem se dedicado para a principal olimpíada dos idosos no país

Há exatos 30 anos, em 1994, nascia em São Paulo a ideia de uma olimpíada da terceira idade, com o propósito de estimular os esportes e promover a autoestima das pessoas idosas. O Cara e Coroas realizado naquele ano, no Ginásio do Ibirapuera, deu tão certo que no ano seguinte virou um programa do Fundo Social de Solidariedade com a administração técnica da Secretaria Estadual de Esportes.

A iniciativa ao longo dos últimos anos foi crescendo, contagiando gerações de novos professores de educação física, de funcionários e gestores das secretarias de esporte.

Cada vez mais a necessidade da  prática de exercícios na terceira idade é colocada pelos médicos geriatras e demais profissionais como fundamental para garantir um envelhecimento com qualidade de vida. Está provado que as pessoas idosas que fazem algum tipo de esporte ou mesmo atividade física de baixo impacto, com regularidade, têm resultados imediatos. Elas conseguem reduzir o enfraquecimento dos músculos, a perda de equilíbrio e melhora a capacidade de socialização e a independência. 

Só esses já deveriam ser motivos decisivos para que os governos de todas as esferas se preocupassem em investir nas práticas esportivas para as pessoas idosas como método de prevenção de doenças ou adiamento dos casos graves. Há ainda a questão econômica. É muito mais barato investir em esporte para a terceira idade que bancar tratamentos advindos da inatividade, da falta de inclusão social, como a depressão, por exemplo.

Em todo o Brasil cada vez mais surgem campeonatos municipais, regionais, estaduais, seguindo a ideia plantada pelo JORI de SP. No entanto, no trigésimo aniversário, os paulistas que gostam de esportes, ao invés de participar de um grande torneio comemorativo, estão tendo problemas sérios com a organização do agora JOMI- Jogos da Melhor Idade. O nome foi mudado pelo ex-governador João Dória em 2019.

Para a realização do JOMI 2024, nos moldes do que sempre foi feito, a Secretaria Estadual de Esportes faz um convênio com a Prefeitura que vai sediar o torneio regional e repassa uma verba destinada para  alimentação, transportes e demais despesas. São 8 competições regionais e uma final com os dois primeiros colocados de cada uma das 14 modalidades em competição.

 Em 2024, a Secretaria Estadual de Esportes tem reservado para investir cerca de R$3.500.000, nas nove etapas. Com uma expectativa de 2 mil idosos em cada regional e cerca de 3 mil na final. Neste ano, 181 municípios se inscreveram, mas vários estão desistindo. Um problema inédito começou a surgir na gestão do Governador Tarcísio de Freitas que é o não empréstimo pela Secretaria Estadual da Educação das escolas, para alojamento dos atletas idosos, como sempre aconteceu.

A alternativa dada é descentralizar as competições, em cidades ao redor da sede do evento, o que além de criar custo para os municípios, gera problemas de logística e segurança para as pessoas idosas.

Para entender um pouco mais o momento atual do JOMI, o Jornal da 3ª Idade entrevistou o professor Antonio Carlos Buzato, atualmente na Secretaria Municipal de Esportes de Osasco, na Grande São Paulo. Formado em Educação Física pela Osec (hoje Universidade Santo Amaro), foi professor da rede estadual de ensino durante 34 anos. Aposentado do Estado, continua na ativa como funcionário efetivo de carreira na Secretaria de Esporte, Recreação e Lazer (SEREL) da cidade de Osasco há 35 anos, exercendo a função de coordenador esportivo. Ele atua no Grupo da Melhor Idade de Osasco, é o  responsável pela participação da cidade no JOMI e um dos organizadores do JATIO (Jogos Adaptados da Melhor Idade de Osasco) anual, sempre no mês de outubro.

Jornal da 3ª Idade – Para o senhor que trabalhou na Secretaria Estadual de Esportes e que depois de aposentado de lá passou a criar campeonatos regionais, qual a importância dos Jogos da Melhor Idade para os trabalhos com idosos no Estado de São Paulo?

Prof.º Antônio Carlos Buzato, coordenador esportivo da SEREL em Osasco, SP –  O trabalho esportivo com as pessoas idosas é fundamental para a qualidade de vida. Acredito, no entanto, que o principal seja a oportunidade dos idosos reencontrar amigos, conhecer cidades e se consagrar. Quem acompanha os torneios sabe o quanto é bonito o encontro das delegações, a satisfação de estar representando a sua cidade. As pessoas idosas que estão em atividades físicas, que estão participando de torneios estão fora do pronto-socorro, longe das filas dos postos de saúde. Participar de um esporte depois dos 60 anos, mesmo os que nunca tinham tido a prática antes, melhora a auto-estima e todos se sentem mais felizes.

Jornal da 3ª Idade – O senhor acredita que as dificuldades que estão ocorrendo desde o ano passado na realização das etapas estaduais do JOMI prejudiquem a participação das pessoas idosas?

Prof.º Antônio Carlos Buzato, coordenador esportivo da SEREL em Osasco, SP –  Infelizmente a Secretaria Estadual de Esportes do Estado de SP vem tendo muitos problemas de várias ordens na organização do JOMI. Antes quando cabia ao Fundo Social de Solidariedade a sua estruturação, os torneios eram muito organizados e resultava num trabalho bonito. Depois que passou somente para a Secretaria de Esportes virou uma bagunça, uma balbúrdia. Estamos começando o mês de maio sem ter sede para a etapa do JOMI da 1ª Região. Isso nunca aconteceu antes. 

Jornal da 3ª Idade – Qual a leitura que o senhor faz da falta de uma agenda junto às cidades? Existem as tradicionalmente envolvidas, mas temos várias que nos últimos anos se esforçaram para participar.

Prof.º Antônio Carlos Buzato, coordenador esportivo da SEREL em Osasco, SP –  Isso demonstra uma fraqueza e uma falta de respeito dos dirigentes da Secretaria Estadual de Esportes tanto para com as pessoas idosas. É uma desvalorização tanto do esforço dos idosos como do trabalho que os municípios fazem. É uma falta de cuidado com aqueles que se dedicam muito e esperam de um ano para outro para participar do JOMI. É muito triste constatar que as pessoas que hoje comandam a Secretaria Estadual de Esportes sequer dão bola para a terceira idade. Eles estão preocupados só em fazer política. Nós os idosos – porque também faço parte desse grupo- estamos relegados a segundo plano.

Jornal da 3ª Idade – Na sua opinião, o que é possível fazer para melhorar a realização do JOMI?

Prof.º Antônio Carlos Buzato, coordenador esportivo da SEREL em Osasco, SP –  O JOMI só vai melhorar na medida que houver respeito dos dirigentes e dos atuais comandantes do Esporte no Estado de SP com os municípios, com os dirigentes e com os idosos que fazem o espetáculo acontecer no JOMI. Os professores e as cidades não estão sendo ouvidos. O que reina na Secretaria é uma política que não está voltada para os idosos. Os comandantes atuais tem que chamar os municípios e dar oportunidade para que todos falem, expressem suas necessidades. O que todos querem é fazer um bonito espetáculo e continuar promovendo saúde e qualidade de vida para os idosos. Se continuar no marasmo atual, estamos correndo o risco de ver o JOMI acabar drasticamente. Infelizmente.